segunda-feira, novembro 02, 2009

A espera de Melina


Melina perdeu sua juventude, esperando o cadeado de seus sonhos se abrir.

Lembra-se de seus falsos poemas, e de amores que nunca concretizou, enquanto a TV reprisa mais um filme antigo.

"São tantos os tatos daqueles com quem me deito
Que guardo em meu peito as sobras dos atos

Até mesmo, dos que rejeito...."

Eu te amaria se às vezes não odiasse o vácuo noturno onde te escondes, e deixas de contemplar a sede que tenho de ti.

Tal exagero se explica pela frequencia com que observo reações estúpidas e medrosas, e por você nunca querer ouvir a mesma música que eu.


A inconstância do amor, a fragilidade de nossos corpos, a falsidade nas relações sociais, os compromissos da amizade, os efeitos mortais da monotonia, do hábito.


Tanto a se fazer no mundo, e os homens cada vez mais se dedicam à arte da infelicidade.


Deveria ser suficiente pensarmos que somos humanos e que a morte pode chegar ainda esta tarde.


Tendo aberto mão da crença na nossa própria imortalidade, seríamos então lembrados de uma série de possibilidades nunca experimentadas.


Entretanto, enquanto o cataclismo não acontece, nós não fazemos nada, até mesmo porque é cômodo estarmos às voltas do seio deste cotidiano, metódico e que sem percebermos, nos mata lentamente.


Negligenciamos desejos, e corremos em torno de nós mesmos, sem notar que ao redor tudo é superiormente magnífico.

Mais um dia de sol que se foi e a tarde caiu sem que a brisa soprasse seu rosto. 

Melina adormece, antes do primeiro intervalo.

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