segunda-feira, dezembro 21, 2009

Vespertino

Às vezes faz um calor intenso,
cambalhotas abraçados,
coloridos sabores da noite.
Às vezes nos separa esse sofá imenso.

Talvez seja essa a rotina que nos cabe,
e procura nos brindar em devaneios tontos.
Mas gosto dos espaços em branco,
Pra que a volta seja como você bem sabe.

A cortina fica assim meio aberta,
Pernas, persianas, luzes entrelaçadas.
Voam os papeizinhos da mesa da sala,
Adoro quando é você quem me desperta.

Encontrei meia dose de licor,
deixada antes da gente dormir.
flambei com açúcar na panela,
frutas pra saborear com amor.


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ah...amanhã eu continuo a escrever...veio um sono animal...

domingo, novembro 22, 2009

Manhã, tarde, noite

Manhã, tarde, noite
Quero seu abraço, durante as horas dos dias sem fim.
Talvez seja pra sempre,
talvez ontem, e hoje um pouco mais.


rituais ao pôr-de-sol,
nós merecemos.
Vamos deixar as pessoas vestirem seus problemas,
E nos despirmos dos nossos.


Nada é importante,
Tudo somos você e eu,

você em meus olhos,
eu em seus braços.


Lembro nossas intermináveis conversas,
que nos fizeram chegar até aqui,

esqueça as noites que nos silenciamos.



Vamos mudar, vamos sonhar,
pra alimentar nossa alma,
pra enriquecer nossa existência.


Temos uma alegria,
e o direito à essa luz
é a razão de estarmos aqui,
Manhã, tarde e noite.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Amor onde vamos


Não ame disfarçada
Se é minha a culpa, confesso.
Mas não confunda nossas vidas,
Naquilo que chamamos amor
 
Eu tava no palco, sem te enchergar
Você me pegou sem direção a tomar,
agora o ego acabou,
E parece sermos um par
 
Se eu não te amasse,
Talvez entendesse a distância
Mas o que sinto é maior que a razão
E me pergunto
Onde está seu coração?
 
Às vezes acordo à noite,
te observo dormindo
E na beleza do que vejo,
Me pergunto se você
Sabe o quanto a desejo?
 
Muito mais que amizade,
Amar é raro para ser dispensado,
Pra gente um vida inteira
E eu me pergunto
Onde estão nossos planos?
 
E se todas essas perguntas
Já não te fazem sentido,
Perdi algo no caminho.
 
Então fecho a porta com cuidado
Me perguntando
Onde foi parar aquela pessoa
Que tanto choro,
Que tanto amo,
Que tanto me faz viver.

segunda-feira, novembro 02, 2009

A espera de Melina


Melina perdeu sua juventude, esperando o cadeado de seus sonhos se abrir.

Lembra-se de seus falsos poemas, e de amores que nunca concretizou, enquanto a TV reprisa mais um filme antigo.

"São tantos os tatos daqueles com quem me deito
Que guardo em meu peito as sobras dos atos

Até mesmo, dos que rejeito...."

Eu te amaria se às vezes não odiasse o vácuo noturno onde te escondes, e deixas de contemplar a sede que tenho de ti.

Tal exagero se explica pela frequencia com que observo reações estúpidas e medrosas, e por você nunca querer ouvir a mesma música que eu.


A inconstância do amor, a fragilidade de nossos corpos, a falsidade nas relações sociais, os compromissos da amizade, os efeitos mortais da monotonia, do hábito.


Tanto a se fazer no mundo, e os homens cada vez mais se dedicam à arte da infelicidade.


Deveria ser suficiente pensarmos que somos humanos e que a morte pode chegar ainda esta tarde.


Tendo aberto mão da crença na nossa própria imortalidade, seríamos então lembrados de uma série de possibilidades nunca experimentadas.


Entretanto, enquanto o cataclismo não acontece, nós não fazemos nada, até mesmo porque é cômodo estarmos às voltas do seio deste cotidiano, metódico e que sem percebermos, nos mata lentamente.


Negligenciamos desejos, e corremos em torno de nós mesmos, sem notar que ao redor tudo é superiormente magnífico.

Mais um dia de sol que se foi e a tarde caiu sem que a brisa soprasse seu rosto. 

Melina adormece, antes do primeiro intervalo.

Urbana Legio Est (*)

Agora já não somos mais tão jovens.

Se ganhamos o tempo, ou ele que nos tomou de assalto, não importa. 
As luzes permancem acesas, após 20 e tantos anos. 
Tempestades chegaram e partiram, sem que suicídios coletivos fossem nossa salvação. O fim do mundo já acabou.

Aprendemos a navegar na insanidade, ganhar nosso equilíbrio, para enfim apreciar o sol na janela, após cada dia cinzento.
Nos tornamos especialistas em começar de novo, e de alvo, passamos à artilharia. Eliminamos quem se alimentava do roubo.

Destituímos Deuses do infinito, por mais belos que fossem, para então aprendermos a dizer Eu te amo.
Para aqueles em que o amanhã deixou de existir, fica o vício da saudade.
De lágrimas verdadeiras, pintamos as telas de nossas vidas, respondendo pelos nossos próprios erros.
Afinal, agora já não somos mais tão jovens.

* compilação de trechos das letras do Legião Urbana.

sábado, outubro 31, 2009

O Violino

Aquele som com notas dodecafônicas, vinha do apartamento vizinho e incomodava terrivelmente Maria. O pior não era o contínuo atrito do arco com as cordas, que por sinal era belo, mas sim a coincidência de sê-lo em seus encontros com Aquino.
O apartamento ficava menor, quando de propósito o violino desafinava, desafiando o ouvido delicado daquela jovem. 
Sem saber o porquê da ousadia de seu colega de condomínio, Maria questionava tamanha provocação.
 - Será o ciúme de um amor em segredo? - Nunca vi esse cara em minha frente.

Esta noite não seria diferente. Aquino mal sai do elevador, e o arco vibra sobre a primeira nota. Seus passos até o apartemento de Maria tem o acompanhamento de uma seqüência em fusas, que de tão confusas já enlouquecem o visitante. 
Uma pausa!
Semibreve interrompida pelo som da campainha. 
A porta se abre, e para o beijo um som agudo, compasso quase infinito. 
O casal entra e apesar da intimidade do apartamento, cresce o volume.
As notas soam mais lentamente, e na sala de Maria, é de se imaginar abraços, promessas de amor eterno e pequenos beijos roubados.
No violino o tom já se perde há três compassos atrás, juntamente com as roupas de Aquino.
O silêncio não existe. 
Aquino, Maria e o violino formam a sinfonia, de sons estranhos vindos por todos os poros, cordas e frestas de portas, pernas e janelas.

Mas Aquino deve partir na mesma velocidade com que chega. 
Na despedida, o volume diminui, e é mais triste. Onde se ouvia Vivaldi, Maria ouve Chopin. No corpo do violino, uma lágrima.


Som e solidão torturam Maria. Fazem com que ela perca os sentidos e decidida bata à porta do vizinho. O violino cessa. 
A porta abre-se lentamente. 
Maria entra na sala ainda escura, sente uma mão tocá-la nos ombros e o arco do violino envolvendo seu pescoço. Sem tempo para reagir, ela se entrega aos carinhos daquele estranho.
Agora ela própria sente-se a música. Violino e suas notas não dependem de cordas para serem ouvidos.
Uma sinfonia mais bela é ouvida por todo o edifício, durante horas seguidas.
Até que o estranho vizinho  se afasta, as luzes se acendem e Maria se vira para enfim o conhecer.
Na sala fria, apenas um violino encostado à cadeira e seu arco pousando sobre o corpo de Maria, lembrando a figura de um quadro renascentista.
Maria já não estava mais em si, pois sem dó o seu novo amante lhe abandonara. O sol brilhava seus primeiros raios. Lá, naquela sala, a manhã anunciava uma nova primavera para Maria.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Temo pelo dia correndo solto, derretendo minha vida,
Como se passasem as horas, esboçadas em algo já nascido incompleto.
Correm os minutos, mas o tempo é o mesmo.
Te odeio tédio,
odeio-te tédio, até o dia em que algum movimento venha te calar.
Rodeio-me inteiro, corroem-me os sentidos, nulos em tua falta, sentidos em tua espera.
Te esperei por toda vida, por que não agora?

Espelhos da alma lançados à procura de um mundo, lavando-se na noite que chora lá fora.
Cancerígeno, venenoso, violento, 
porém mundo que não se mostre assim tão lento.
Acelerado, explosivo, barulhento,
dançando na chuva, contrário ao vento
Um ritmo leve,
que nos leve longe deste cimento.

domingo, outubro 18, 2009

Ausencia Indelicada

Um perfume de incenso invade todo o prédio,
Tal como esse silencio, próprio dos edificios.
Assim como faz você, todas as noites,
Sem licença, a invadir minha cabeça.
 
Nesse momento só penso em tuas palavras,
Naquilo que sua voz causa em mim,
Na completa felicidade de nosso encontro.
 
Na janela procuro um pouco da lua,
Hoje tão ausente quanto a presença sua.
Mais fácil achar uma estrela incógnita,
Que o caminho impossível de seu carinhos.
 
A chuva caindo lá fora, melhora ao som de Piazzolla.
Vejo nosso abraço num filme preto e branco,
Repetidas vezes, minha mente, uma película.
 
Agora as plantas já foram molhadas,
A tevê desligada, e dois cigarros acessos.
Se durmo, os sonhos trazem seus beijos.
Incoerente sonhar-te e ter meus braços vazios.
 
Seja razoável nesta falta.
a saudade que me causa tua ausência,
Anda fazendo meu mundo perder a cor.
 
Na eternidade desta noite,
O tempo se arrasta sem você.
Escondido nos versos um choro contido,
Na solidão, só as palavras fornecem um abrigo.

domingo, outubro 04, 2009



Brasa Adormecida


Somos poluição sonora aos ouvidos anciãos,
Visão escarlate aos olhos daquelas, que se dizem donzelas,
Às vezes envoltos em filosofias,
Às vezes mentes vazias.

Ora como numa estória hilária,
Ora no silencioso vácuo... espacial.
De acordo com as fases Lunares,
Lunáticos.

Somos dos tipos que pertencem às portas fechadas,
entrecruzam os olhares, com um sorriso pequeno que desponta dos lábios.
Nosso hálito revela a impureza dos sonhos,
e de sonos intercalados de amor.

Nesses instantes encontro-me apto a ouvir sua voz, invadir o ambiente,
Te sentir como se meu corpo estivesse Doente,
A noite inteira te observar,
Sentado ali naquela cadeira.

Esta doença mostra por mais que lá fora, pássaros negros sobrevoem a cidade, a certeza que momento algum seria mais adequado que simplesmente o agora.

Ao final o som quer ocupar mais espaços,
Num abismo de calor delicioso,
A Atmosfera invadida por formas luminosas.

Nítidas horas no início de um novo dia.
Voltam ao lar as donzelas,
Acordam os anciãos.
A lua se apaga,
sobre as brasas ainda acesas.

domingo, julho 26, 2009

Le petit mort


Le petit mort
Upload feito originalmente por Art.Dinardo

O Objetivo da Flor
Meu perfume, dissipado pela mórbida falta de atenção,
Sucumbe junto à pequenas pétalas, de meus braços.
Curta existência, tal qual "la petit mort".
Mini-rosa, mini-vida.
Nasceria novamente, se isto alegrasse seu coração,
Mas minhas forças exíguas, e o frio que me fizeste passar...
Entrego-me à seiva da eternidade,
Me satisfaço se te fiz feliz, ao menos no instante em que me recebeste.
Junto aos presentes, o laço de fita e um singelo cartão.
Nas cores, promessas de um vasto jardim. Outras brotariam de mim.
Agora sem néctar, nem flor.
Aqui ao lado, garrafas de vinho vazias, restos do jantar.
Meu último suspiro, em forma delirante,
e a incerteza:
Se lhe valeu meu sofrimento, para a conquista do amor.